Tempo e Paciência

27-09-2023

"Sapientiam autem non vincit malitia."

Parte 3 de 3

Começo por uma locução em latim, que traduzida significa "Nenhum mal pode superar a sabedoria", esta é a tradução comummente aceite.

Por uma simples razão, a sabedoria é a mãe de todos os males.

O reino do Homem é o único que projecta maldade, naturalmente o inverso também existe (a subjectividade é uma dualidade), mas é também o único que produz e controla qualquer tipo de saber (conhecimento até os animais possuem).

O que é a sabedoria se não um Ying e Yang do Eu? Uma dualidade, dentro das inúmeras dualidades humanas, amor e ódio, tristeza e alegria, vida e morte.

Sabedoria implica calcorrear a sinuosa estrada da aprendizagem, da constante dúvida que assola todas as descobertas, e ser-se sábio, está longe de significar conhecer a Verdade absoluta das coisas. Quem se julga conhecedor da Verdade absoluta, não é sábio, é ignorante.

Mao, durante o reinado do seu império, buscou ser a sabedoria debaixo dos céus, uma clara conotação há China Imperial, que se auto denominava o reino de tudo debaixo dos céus, Mao tornou-se no líder supremo chinês, representava se a si mesmo como omnisciente, omnipresente e omnipotente. Mao era um ignorante, pura e simplesmente.

A diferença entre Mao e o Cristianismo é o idioma em que se expressavam. Mao com o seu grande salto em frente, através da sua revolução cultural, pretendia tornar os chineses crentes na divindade do homem, neste caso, o próprio ideólogo, retirando-lhes o Confucionismo, o Budismo e o Taoismo, todos milenares, e através do ensino curricular (por um largo período de tempo os chineses não tiveram acesso a escolas e universidades) controlar o saber ministrado.

O Cristianismo é a pura bajulação ao Homem Divino, mas que para o ser, tem de abdicar da sua liberdade, adoptar a sua "cultura" e seguir a sua Luz, que é divina…

A mesma Luz que dividiu a Irlanda em dois, que iniciou cruzadas, que exterminou culturas, é a tal que clama "amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a nós mesmos", mas se não amares Deus, és um indigno.

E este pensamento arcaico, rude e cavernícola, ou amas e ignoras o resto, ou és um herege e ignorante é ainda hoje vigente. Não deixa de ser curiosa a conotação atribuída, porque um herege é alguém que questiona, e se questiona não é de forma alguma ignorante, no entanto também não é um sábio.

Todavia, quem percorre a mesma estrada todos os dias, é na realidade um conhecedor da rota tomada, mas ignora as restantes.

Sapere Aude

Qual será o sentido da vida do Eu se não ousar a conhecer? Não será a heresia uma busca incessante do saber? Sem heresia (sem Eus hereges no mundo) a palavra conhecimento é um paradoxo, fútil e desnecessário, e o Eu estático e mentalmente pobre torna se na soma de todos os medos, ignorante.

Os sábios modernos, na sua limitada visão cavernícola, olham para a heresia como a sua inimiga mortal, os hereges confrontam dogmas, e os dogmas são as paredes da caverna que protegem do mundo exterior os doutrinados, os crente na Verdade una e universal.

Empédocles de Agrigento, algures entre 495-430 A.C., percebeu que a percepção humana (o Eu) era assustadoramente limitada; acreditamos estar a ver o todo, quando na verdade só vemos uma fracção, tese que, posteriormente Platão exemplifica na Alegória da Caverna, ou no Mito da Caverna, como é conhecido o escrito.

Actualmente, vivemos novamente o círculo vicioso do Eu, a idade das trevas modernas, onde uma fracção da Humanidade, que se auto intitulam sábios, redigem o novo Index Librorum Prohibitorum, instalam a Inquisição Moderna e doutrinam (tentam e com algum sucesso) a humanidade para a vida na caverna.

György Lukács (acho que desta não errei!!), chamou de ignorantes parte dos Eus que compõem o Ser, e não estava errado!!

O sentido da vida do Eu consiste no uso de todo o espaço existente pelo tempo que o mesmo dispõe, e não no uso do tempo no espaço que nos impõem. E para isso é necessário paciência.

O sentido da vida do Ser, está ancestralmente vinculado e definido, a sobrevivência da espécie, agora, qual será o sentido da vida do Eu moderno?

Valter Marques

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