Se o problema é o culto, acabe se já com a religião
Esta semana, talvez por ter sido uma semana de culto e da celebração do renascimento, desenterrou se um assunto, que por determinadas razões, não se debate na esfera pública diariamente.
O assunto, a maçonaria, é por intrínseca razão de factos, um tema fracturante da opinião pública, seja por desconhecimento de causa e de matéria, ou seja por contágio de opiniões, por uma manifesta maioria o assunto hoje, é debatido por mero contágio, poucas são as opiniões fundadas em um conhecimento que se explorou autonomamente, a maioria do debate e discussão hoje, constitui-se em meras réplicas e adornos de terceiros (bem ou mal preparados), e que na realidade, podemos mesmo afirmar que a discussão da maçonaria hoje, está ao mesmo nível da discussão da pandemia pelos seus defensores, uma completa inutilidade.
A maçonaria é um producto da mão humana, e como tal, sujeita a todas as provações que daí advêm, é também secular, pelo que a melhor característica da maçonaria, tem sido a sua capacidade de sobrevivência, aos tempos e às sociedades, colocar os males deste mundo nos ombros da maçonaria, é por manifesta incapacidade, a tentativa de demonstrar uma inexistente inteligência.
Importava salientar que, neste preciso momento, muitos dos que vociferam a maçonaria, acabaram de comemorar um outro culto maçónico, o Cristianismo, que também possuí nas suas fileiras, pedófilos, xenófobos, é um culto trilionário, e ganha dinheiro com a morte, o Vaticano é também accionista da industria do armamento, possuí uma imensa carta de propriedades, e assume sem pudor, a sua influência no mundo, possuí ritos e rituais, alguns deles contestáveis, o exorcismo, a inquisição, e a segregação entre pares, através do baptismo, que é motivo suficiente para, e entre outras, não poder apadrinhar religiosamente um seu par.
O primeiro erro básico, consiste na acusação avulsa da maçonaria, mas qual a Ordem precisamente?, Sucede que o termo maçonaria é um termo lato, e tal uso neste latus sensus é o equivalente a a condenar todos os adeptos de futebol pelos distúrbios causados em determinado momento, sabemos de antemão que, nem todos os adeptos são violentos ou perturbadores da paz, o mesmo se passa na maçonaria.
Discutir a maçonaria, exige uma reflexão profunda sobre o conceito, sendo este o segundo erro da actualidade, a maçonaria não é o individuo, o termo Maçonaria, é de origem francesa e significa construcção (ou mais vulgarmente pedreiro), pelo que a maçonaria não se define como um grupo de indivíduos, secretos e adoradores de um qualquer símbolo, mas sim as ordens, que por definição se enquadrem estruturalmente na definição de maçons, ou pedreiros (construtores), que, de acordo com os pergaminhos seculares de conduta e hierarquia, formem uma Ordem Maçónica.
As ordens maçónicas, remontam ao séc. XIII (comummente aceite) e a mais conhecida em território português é a "Pauperes commilitones Christi Templique Salomonici", fundados em 1118 e fundadores do sistema bancário actual, pegando no exemplo, e carreando o mesmo aos nossos dias, a Ordem atrás mencionada, foi extinta em 22 de Março de 1312, e em 2 de Maio de 1312, as posses da referida Ordem são confiscadas e transferidas para a Ordem de Malta, outra ordem maçónica, com a excepção das propriedades em Portugal, em Castela, em Aragão e em Maiorca, que o produto do confisco ficou na posse dos monarcas ou soberanos.
Sem a Maçonaria e as suas ordens, o Iluminismo hoje cingir-se-ia aos candeeiros das vias públicas, é um facto que os mesmos iluminam..., ainda viveríamos no centro do universo, Galileu (que era maçon) teria sido queimado (bem tentaram...), a capela sistina teria a sua abobada em tons de cal, e provavelmente Sampaio não teria chegado à presidência da república...
A maçonaria é parte integrante da história da sociedade, e convém não cometer erros cíclicos, porque todas as tentativas de a apagar do mundo, falharam, levaram nas a um estado de secretismo (o secretismo maçónico tem subido de nível, cada vez que se sente ameaçado) e em muitos casos a uma clandestinidade, o que leva a equívocos.
Pelo que, o assunto maçonaria, antes de ser discutido de forma avulsa, e nalguns casos de forma pejorativa, deve ser cuidado, o próprio CSM é enquadrável, na definição de Ordem Maçónica, tal como a Ordem dos Médicos, ou a Ordem dos Engenheiros, não são as Ordens propriamente ditas que fazem o criminoso, mas o criminoso (ou alguns criminosos) que tornam as Ordens em nichos de crime.
A expropriação avulsa dos bens ligados às Ordens Maçónicas, e a consequente apropriação, digamos pelo Estado, consubstancia-se primeiro em crime (Ipso facto) e por segundo significará somente a transferência de propriedade entre uma Ordem e outra.
O problema com a maçonaria, resolve-se, obrigando a sua completa transparência, e ao regresso ao seu momento inicial, há vida em sociedade aberta, mas para se atingir este objectivo, é necessária a mudança do sistema político, do sistema de educação e ao crescimento da sociedade, é que combater um gigante, gritando-lhe aos joelhos, não resolve "merda" nenhuma.
Cresçam como indivíduos e como sociedade, para que possam gritar-lhe aos ouvidos...
Valter Marques