Prisioneiros da Mente

06-06-2023

- A mente, tal como os sentimentos, são uma das maiores ameaças a qualquer indivíduo.

Não que a mente, tal como os sentimentos, sejam um defeito ou uma infelicidade, não é disso que se trata.

A mente é o calcanhar de Aquiles da humanidade, é através dela que amamos, que odiamos, que satisfazemos as necessidades básicas e compostas, e é da mente que nasce a guerra e a paz.

A mente providencia escolhas sobre matéria e assunto. O trabalho de fundo mental, é o que permite a escolha ao individuo, e é por razão natural, simultaneamente prisioneira do individuo. E este círculo viciante, entre mente e individuo, é que se torna perigoso, dado o facto que, o individuo se limitar a manter escolhas unilaterais.

Um individuo que adopte a verdade única, sem a explorar e questionar devidamente, está a aprisionar a sua própria mente, limitando-lhe o seu raio de acção e a sua própria biblioteca de conhecimento.

Platão (427 aC a 347 aC), no seu "Mito da Caverna", demonstra que mente e individuo se podem aprisionar mutuamente. A mesma alegoria, também demonstra que é possível ao individuo, se libertar dos dogmas e vícios causados pela sua própria mente, bastando ao mesmo individuo, se libertar da escuridão em que se encerrou.

A alegoria mencionada, faz parte da colectânea "A República", e ainda que entre os escritos originais e a actualidade, existam mais de dois mil e quinhentos anos de intervalo, o "Mito da Caverna" encontrasse devidamente conforme e actual.

Se pegarmos nestas três últimas décadas, facilmente chegaremos a essa mesma conclusão. De uma forma rápida e pouco trabalhada, podemos aqui verificar como a mente e o indivíduos se deixam aprisionar, pelas sombras, vozes e muros, que alguém projecta intencionalmente para dentro da caverna.

O "Mito da Caverna" reflecte a ignorância auto-infligida, o dogma aceite sem reservas da verdade única e o poder da falta da educação (conhecimento livre), reflecte também a ausência de liberdade, que os muros exteriores erigidos limitam.

Naturalmente que, as sombras e as vozes projectadas na caverna, provinham do mundo exterior, pelo que, no exterior existe vida. A verdade única assumida pelos cavernícolas, incapazes de discernir da existência da tal vida externa, não lhes permite suscitar a dúvida razoável, e procurar que outras verdades poderiam existir.

Reflictamos sobre a crise financeira de 2008/2013, que assolou parte do mundo (não foi de forma alguma sentida de igual modo no mundo inteiro), mas assolou de sobre maneira Portugal.

Aquando dos primeiros descalabros nos mercados financeiros americanos, o sistema político português, assegurou da imunidade do sistema financeiro português, foi até em público, que o Chefe de Estado assegurou a robustez de uma instituição nacional, que afinal de contas, se desmoronou dias depois.

Esta sombra de segurança projectada para dentro da caverna, foi crucial. A mesma projectou uma mensagem necessária, suficiente para manter a caverna isolada do exterior, inibindo a sua correcta compreensão do mundo exterior.

Quando a crise bateu há porta, e afinal, a sombra projectada estava longe da realidade. O exterior projecta as vozes necessárias para o interior, projectando o problema como, primeiro fortuito, e segundo como solucionável, o muro erigido no exterior da caverna, serve de fronteira entre a realidade exterior e a ignorância interior, do exterior é projectado o guião, no interior esse guião é assumido como único caminho.

A crise de 2008/2013, foi integralmente paga pela sociedade, as vítimas do flagelo, não pelos prevaricadores, a finança, a existir um slogan para o sucedido, seria algo como "mate-se a sociedade para salvar a banca", mas nenhum banco ou instituição financeira, alguma vez salvou uma sociedade, nem o irão fazer, mas uma sociedade fora da caverna, mata os bancos e vive sem crises.

Se nos habituarmos às projecções e vozes, se permitirmos os muros em nosso redor, nunca iremos conhecer quem as projecta (sombras e vozes), nem quem erigiu os muros, e deste modo, presos na caverna, nunca iremos descobrir o mundo exterior.

Era de extrema importância conhecer as fontes de tais sombras e vozes, e os constructores de tais muros, porque doutro modo, a falta de conhecimento aprisiona a mente, e a mente aprisiona o individuo.

Não só na crise de 2008/2013, a sociedade se encavernou, mas também tomou esse desígnio com a Covid, com a guerra e com os Galambas do mundo exterior, e assim continuará com tudo o que mais o exterior achar necessário. Tal como manter o actual estado em que se encontra a caverna, uma verdadeira lástima.

Os cavernosos, presos que estão pelo seu próprio desígnio, incapazes de obter uma visão geral e pragmática do mundo que rodeia a caverna, tornaram se na sociedade portuguesa da actualidade.

Sem o devido conhecimento dos problemas actuais no mundo exterior, o tal que projecta as sombras e as vozes de comando, e que erigiu os muros em torno da caverna, de forma brilhante e inteligente, condicionam as mentes e os indivíduos, que por mero desígnio próprio, optaram por viver como meros cavernícolas.

No fim de contas, a vida na caverna é a vida da ignorância, do medo e da inutilidade, e uma sociedade nestes moldes, como a actual sociedade portuguesa, não serve para nada, nem mesmo para a caverna.

Valter Marques


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