O ponto de viragem
2024 e a queda do Ocidente
Hoje é dia 20 de Dezembro de 2023, estamos a onze dias do ano terminar, e cinco dias faltam para o Natal.
Parece ser uma normalidade cotidiana, este facto, mas 2023 marca uma serie de eventos futuros, que com o seu caminho para o término, lança as linhas da mudança, 2024 será o ano em que o Ocidente Colectivo iniciará a sua descendência gradual e cimentada do trono do poder do mundo.
Nenhuma mudança de nível mundial se dá, ou acontece em meia dúzia de dias, sobretudo aquelas que, na realidade são mudanças. O ocidente, e em especial a Europa, deveria de saber de antemão, que revoluções e convulsões sociais, raramente resultam em mudanças significativas, se pegarmos no marco histórico da revolução francesa (1789), tida como a "grande mudança paradigmática" da Europa, e para esse evento olharmos com seriedade que se lhe exige, facilmente concluiremos que a ilusão de mudança que esse mesmo movimento criou, produziu a desilusão da mera troca de nomenclatura do regime e, como natural, a mera nova maquilhagem societária. Da revolução francesa, resultou a mera troca do sistema monárquico, pelo sistema imperialista, a troca da figura do rei, pelo imperador, e na realidade dos factos, nada mudou a não ser as cores da tenda do circo, e da roupagem dos palhaços.
As mudanças, requerem tempo, porque mudar, requer primeiro uma mudança de percepções da sociedade, e mudar uma sociedade demora tempo.
Nos últimos 30 anos, a sociedade ocidental viveu a ilusão de poder, e na realidade parte dessa ilusão era visível, palpável, acontecia diariamente, a outra parte, a que suporta a ilusão magna, era completamente invisível para as sociedades imbuídas na percepção visível de poder. Os sistemas políticos ocidentais, sem regras e sem controlo, jogavam livremente, o jogo do poder, a sociedade crente nos milagres proporcionados por esses mesmos sistemas, auto destruía-se ao mesmo ritmo da ilusão do poder que vislumbravam.
Em breve, iremos aferir e encaixar dolorosamente as desilusões que nos esperam, e quando pensarmos, que batemos no fundo, que é hora de emergir, iremos descobrir um degrau mais para descer. Qualquer acto promove uma consequência, mas uma consequência promove dois actos, a vida são escolhas, e com as escolhas vivemos.
Durante estas três últimas décadas, o Ocidente imprimiu a sua vontade pela força, através da ditadura económica e através da máquina de guerra além-fronteiras, e no seu espaço interior, através do estrangulamento financeiro e do capital privado (Big Pharma, Big Techs). Um acto, uma consequência, é este o actual cenário ocidental, mas uma consequência produz dois novos actos, é esta nova sequência que marcará o declínio ocidental, que se irá auto propor em 2024.
A convergência de poderes é cíclica, o mundo é por si só, um ciclo de acontecimentos, e o controlo do mundo é, de forma cíclica, renovado. Entender os ciclos mundanos é, regra geral, perceptivél, mas a percepção não é o todo, e entender o todo, é actualmente, e de forma geral, impercetível, fruto dos actos que optamos por tomar, a consequência é a falta de visão e entendimento que abunda no ocidente.
O que significou 2023 em termos de poder para o ocidente?
A quebra da sua hegemonia mundial, a partir de 2024, a hegemonia ocidental vai se auto implodindo, se até 2023 o poder se concentrava no Ocidente, a partir de 2024, esse mesmo poder se irá transferir para o hemisfério Euro Asiático, se de forma hegemónica, ou de forma multipolar, é algo que ainda iremos descobrir.
O poder mundial, não se decide no campo militar, uma vitória militar, pode produzir uma derrota política e económica, mas uma vitória política, pode sair de uma derrota militar, bem como uma vitória económica, pode ditar uma derrota política e militar, as sequências que demandam o poder mundial são, amplas, complexas e necessitam de planeamento antecipado, e não se toma o poder do mundo com vitórias parciais. O movimento político e económico são o baú, e o movimento militar o cadeado que sela o baú da vitória.
Muito se tem escrito sobre quem assumirá o poder mundial, China, Rússia, existe quem opine na manutenção Anglo-Saxónica, ou BRICS alargado, mas em nenhuma profecia se refere a Europa, nem se podia o fazer na realidade, a Europa será uma espécie de terceiro mundo durante algumas décadas, logo afastada do desígnio de reinar.
Por exclusão de partes, o BRICS alargado é uma organização mercantil, não política, mesmo tornando-se num colosso económico, faltar-lhe á o movimento político e militar, o império Anglo-Saxónico, é o poder reinante, e que vai passar o testemunho. O que nos deixa dois, China, com um movimento económico e político demarcado, mas sem movimento militar capaz, resta um, a Rússia, politicamente é quem manda hoje, em crescimento económico e afirmação militar, na Rússia reúne-se os três ingredientes necessários, mais um extra, que mais nenhum outro iguala, a independência energética.
A guerra na Ucrânia despoletou a supremacia militar russa, 50 países, triliões de dólares, 5 exércitos OTAN destruídos, e a vitória militar russa é indiscutível, a Ucrânia é uma miragem de nação, e a Europa transformada num bairro de lata, no movimento económico, a economia russa cresce (em tempo de guerra!!!), cimentou o conceito BRICS, alargando-o, e em 2024 assume a sua presidência.
Mas a maior vitória vem no campo político, Putin em 2024 vai a eleições, será novamente o presidente da Federação Russa, mas essa nem é a sua maior vitória, nem a vitória que lhe garantirá o poder do mundo.
Putin tem a sua marca na história da Humanidade garantida, e fê-lo com tempo, e com o tempo a irá cimentar, como poucos tiveram essa capacidade, e não é um elogio barato ou uma qualquer jura de amor, é um facto.
Antecipa a crise ucraniana, com o pacto comercial (o maior alguma vez existente) com a China, assegurando aos chineses a energia necessária para o seu contínuo desenvolvimento industrial, e retomando para a Rússia os encaixes económicos necessários para suportar uma guerra de longo termo, providencia à Turquia (um inimigo secular, e um cata vento das políticas externas actuais) a possibilidade de se tornar parte importante da vida futura da europa, tornando a Turquia no hub energético de ponta, retirando ao norte europeu (ainda que tivessem sido destruídos) a exclusividade das rotas energéticas, com a Turquia, mesmo sem posição definida, divide a europa em dois blocos.
Mas o passe magistral de Putin foi na relação Saudi-Iraniana, o reatamento de relações é obra de Putin, o mediador a China, e este episódio merece uma reflexão, a China nunca teve um papel determinante fora da sua zona de influência, a última vez que a China mediou um conflito diplomático, foi nas Coreias, na sua zona de influência, porquê agora e fora do seu espaço natural? Os aliados querem se seguros e confiantes, e para isso a sua importância deve ser conhecida.
A China é o motor industrial do mundo, é uma potência sem dúvida, deve ter um papel de conciliador, sem levantar o receio, às partes, de ser uma potência militar, coisa que hoje, indiscutivelmente não se passa com a Rússia. Putin eleva a diplomacia, através da China, sem o aparato militar, coisa que o ocidente nunca conseguiu.
O que traz frutos para a resolução do conflito no médio oriente, com a desestabilização da hegemonia Anglo-Saxónica no local, como já hoje se demonstra.
Não se estabiliza a Palestina, sem primeiro se estabilizar as áreas circundantes, e sem isolar Israel, e isso demora, leva tempo, e numa guerra, tempo significa vidas, destruição e sofrimento.
E como já vai longa esta missiva, a solução para a Palestina está desenhada, dois Estados, e os promotores desse desfecho serão os países árabes circundantes, assim que deixarem de vez a hegemonia Anglo-saxónica, e assumirem a sua posição no mundo multipolar, fruto da engenharia de Putin.
Muitos se indignam com a passividade russa, com a inércia de Putin neste conflito, somente porque são incapazes de perceber que Putin não quer salvar o mundo, é o mundo que deve querer se salvar, Putin mostrou o caminho, um dos actos provenientes da consequência, o outro, é a não querer mudar.
Valter Marques.