Forjado a frio, moldado pelo fogo

16-10-2023

A actual situação no mundo não nasceu ontem e muito menos em 2022, com o escalar do conflito no Leste Europeu. Para se entender a dinâmica do presente, necessitamos compreender o seu passado. e naturalmente cada um, interpreta do modo que lhe parece mais aproximado da verdade.

Durante o período da guerra frio, duas potências se forjaram a frio, foi nesse longo inverno que, o ocidente colectivo se melhor preparou para governar o mundo, porquanto a Euroásia (URSS e China), se fechavam ao mundo, e lutavam para se definir.

O fim da guerra fria, e a consequente queda da URSS, possibilitou ao ocidente colectivo, melhor preparado, tomar de assalto e reclamar para si a hegemonia mundial. Enquanto os dois blocos se mantiveram firmes na luta pelo equilíbrio mundial, o oeste colectivo progrediu a uma velocidade superior ao seu congénere ou congéneres, o que trouxe frutos ao oeste da europa, EUA e restantes países alinhados, pelo contrário, na contra parte, o bloco de leste e a China, lutavam internamente para se recomporem, o comunismo 2.0 chinês e a nova Federação Russa a desenhar um conservadorismo 1.01.

O mesmo planeta, duas realidades distintas. Do fim da URSS até ao actual momento, o fogo tem moldado o mundo,   

Com o fim da Guerra Fria, e a queda da URSS, o pressuposto balanço entre potências é desvalorizado, o mutual assured  destruction (destruição mútua garantida) proporcionada pelo espectro nuclear da época, foi durante bastante tempo esquecido, e quando a memoria falha, os erros repetem-se, e molda se a realidade novamente pelo fogo. Esta é a realidade que vivemos, e que temos de viver.

Todos os poderes assentam nos seus satélites, seus aliados, nenhuma potência deixa para os seus aliados o poder de decisão, nem o Oeste Colectivo, nem a Rússia, ou a China, ambos usam da sua supremacia para liderar, conduzir e controlar os tentáculos onde o polvo pousa a sua cabeça, na realidade é a cabeça do polvo que domina o corpo dele mesmo. A luta pelo domínio é mental, e é da mente que nasce a imposição pela força.

Desde o final do século XX, que o Ocidente Colectivo imprime a sua velocidade no mundo, a supremacia do poder obtêm se, tal como num jogo de xadrez, através do sacrifício das peças (satélites, aliados), é através das mentes do detentores do Poder que se joga o jogo, a Ucrânia, Taiwan, Arménia, e a própria UE, foram os peões, os bispos e os cavaleiros do Ocidente no xadrez mundial, oferecidos ao sacrifício dos bastidores do controlo absoluto do mundo, pela contra parte, no caso Rússia, Lugansk, Donetsk, Chechénia, Geórgia e Síria, eram os sacrifícios necessários, os tais peões, bispos e cavaleiros do jogo, usados para proteger o Rei, tanto russo, como americano.

Todos os jogos são divididos, os recursos, os meios e o tempo são comuns, a estratégia é individual e a táctica depende do oponente. E como qualquer jogo, a plateia é o recurso mais importante, compete a cada jogador, dotar se de uma plateia fiel, capaz de criar uma percepção de tal ordem, que influencie a plateia adversária, 

O jogo da supremacia no mundo está ao rubro, o tabuleiro de xadrez está a ser limpo neste preciso momento, e mais uma batalha se inicia (não fosse o xadrez um jogo de guerra!!!), o conflito no Médio Oriente não é novo, simplesmente se intensificou, ganhou projecção, tal como no xadrez, os movimentos são ditados primeiro, pela estratégia (vencer), e em segundo pelo uso dos meios e recursos (táctica), 

O mundo tem sido, desde os primórdios do tempo, construído em duas fases, a fase estratégica (a forja a frio) e a fase táctica (modelagem pelo fogo), e enquanto existir humanidade, assim será, nenhuma paz é eterna, nem nenhuma guerra para sempre existirá. O que se vive são os ciclos redundantes do poder, toda a paz é a preparação da guerra, e toda a guerra é o caminho necessário para a paz.

No Medio Oriente caminha-se para a paz, forjada pelo fogo, tacticamente o poder reinante esgotou-se, a hegemonia do império é consumido diariamente pelo fogo tactico do oponente, todas as peças estão esgotadas no tabuleiro ocidental, o fim está ao virar da esquina.

Israel corre o risco de ser, não uma Ucrânia, mas uma  Hiroshima ou Nagasaki, não que o nuclear seja empregue (se um dia se empregar novamente, agradeçam a Israel), tal facto não será necessário para o efeito similar, não será o Hamas ou o Hezbollah a força capaz, mas uma torre na carteira russa, o Irão.

Podemos culpar o mundo árabe, podemos culpar os russos, mas por certo que nunca iremos nos culpar, somos demasiados dicotómicos e maniqueístas, e por muito que se encerre no cinzento, o que importa é o preto e branco.

 No mundo não existem bons ou maus, existe variedade, nem tão pouco as percepções das realidades são sinuosas, são lineares. Isto por uma simples razão, tudo tem objectivos definidos, tudo o que um pensamento sinuoso produz são objectivos indefinidos, e isso é uma mão cheia de nada.

Pelo espectro do maniqueísmo, dos bons e dos maus, dos certos e dos errados, obtemos o mais puro estado do Homem, a dualidade, o confronto, a escolha e a liberdade da mente complexa, entender e definir o maniqueísmo, sem entender o que somos, é um erro capital, nem o segredo mais recôndito da história é neutro, exigiu para a sua formulação, uma clara separação de duas distintas verdades, ou mentiras.

É o frio e o fogo que mudam o mundo, o resto são meros acessórios, e a plateia divide-se, no fim o fogo irá purificar, e o que sobrar, um novo ciclo frio iniciará.

Valter Marques

 



 


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