Educar ou formar academicamente? Parte 2
A formação académica constitui se na mestria da transmissão do conhecimento, no fomento da vontade de aprendizagem, é também por excelência o campo neutro da discórdia, ou devia de ser...
É neste campo, que se aprende o alfabeto, os números, a gramática e as matemáticas, as ciências e a história, que se deveria dar á compreensão dos ignorantes e singelos seres, que pela primeira vez, de forma séria e estruturada, convivem com as adições e subtrações dos números, com a construção ordenada de palavras e frases.
É a altura em que bate de frente com o teorema de Pitágoras e o seu problema dos catetos e a hipotenusa, com a "regra de 3 simples", com a geometria, com a geografia, com as artes e os trabalhos manuais.
Fase essencial das ciências filosóficas, ou era, é o contacto com os mortos pensantes, lunáticos ou profundamente marcantes da compreensão do pensamento humano, é altura de entrar em cena, Platão, Sócrates e Aristóteles, Etienne d´La Boetie, Nietzschse, Thoreau, Montesquieu, entre muitos outros, é o tempo de estudar, apreciar e compreender as grandes obras literárias, e os seus autores, como Lev Tolstói, Miguel de Cervantes, Júlio Verne, Victor Hugo, Charles Dickens...
A formação curricular, aberta e universal é ainda jovem no quotidiano da sociedade de hoje, durante séculos, que a arte de ministrar o conhecimento era restricto, não era universal, estava vedada á plebe, aos escravos, aos serviçais do clero e da nobreza, era um direito divino da aristocracia dominante, do clero, da baixa nobreza (comerciantes e negociantes), da alta nobreza (Rei e restante estado).
A abertura da formação académica, permitiu a evolução do povo, dos serviçais, permitiu a libertação dos escravos das amarras da tirania, permite hoje, 90% da população mundial, escrever um simples lembrete em um "post it" ou a um simples estudante de medicina proveniente de uma classe pobre em Portugal, elaborar uma tese para o seu mestrado.
Pouco desta filosofia, se encontra hoje no ensino, que foi vergada pela ideologia, pela doutrina e pela insana competição dos rankings escolares.
Não é falsa a afirmação que, o sistema de ensino de hoje, se rege não pelo conhecimento adquirido pelos seus alunos, mas sim pelo desempenho dos estabelecimentos, não importa quantos ignorantes se formam, desde que o façam com boas notas, doutrinados e amestrados pela ideologia eugénica do momento, desde que sejam incapazes de raciocinar e de obter pensamento crítico, é garante de nota honrosa.
Não se estudam ciências, doutrina se uma ideologia, e quanto mais estupido se for, maior a probabilidade de obter ganhos com isso, demoniza se Haynes, Hayek, Marx, no plano económico, mas nunca os leram, não podem de forma alguma sequer, entendê-los, quanto mais falar sobre eles.
Considero o sistema de ensino em Portugal, hoje, pior que terceiro mundista, doutrinador, ideológico, mesquinho e inútil.
É um sistema que premeia a burrice, a indulgência, a preguiça, o bom aluno é metido no mesmo saco de um mau aluno, ler fluentemente na 3.ª classe, vale tanto como ler silaba a silaba, saber a tabuada de raciocínio é igual a contar pelos dedos, e isto é errado.
Para um aluno de hoje, saber ou não saber, é lhe completamente indiferente, não reprova, a bem dos rankings e dos rácios de aproveitamento escolar, bem, também o que podemos esperar com mentecaptos, inúteis e autênticos ignorantes aos comandos do ensino?
Naturalmente, toda esta farsa do ensino, serve um propósito, o retrocesso geracional e civilizacional, iremos em breve nivelarmo-nos ao tempo da idade média, muito antes do tempo das luzes ou do iluminismo, onde o ensino de qualidade só estará ao acesso da burguesia tecnocrata.
A figura do professor hoje, é tratada como mercadoria, capaz ou incapaz, sujeito áquilo que, os seus alunos estão isentos, de provas, de notas, de classificações, sujeitos aos ditames dos seus superiores e às doutrinas, consoante o borrego que representa o poder, e o que o poder requer.
A figura do professor quer se austera, séria, de poder absoluto, no controlo das matérias, capaz de analisar o individual e o colectivo que, diante de si se apresenta, para ser ministrada a passagem do conhecimento, aos alunos, exige se respeito, trabalho, esforço e dedicação, que honrem a figura que lhes transmite e preenche as lacunas do conhecimento.
Mas no mundo imbecil de hoje, os nossos filhos são precocemente um poço de sapiência, e os professores uns idiotas que não os compreendem, na realidade existem bons e maus professores, nem poderia ser de outra forma, mas não existem alunos sapientes, isso é uma falacia
Conhecimento não é sabedoria, mas ninguém é sábio sem o conhecimento.
As falhas que teimosamente infligimos no ensino, que as propagamos criminosamente hoje, e ontem, irão garantidamente reflectir-se ainda no nosso futuro, no nosso meio de vida, na nossa sociedade, o conhecimento doutrinado conduz á ditadura, não só política, mas como social, na saúde, na economia, no desenvolvimento.
Portugal, um pouco como todo o mundo ocidental, possui o maior "stock" de licenciados, na faixa etária dos 18 aos 35 anos, no entanto esse armazenamento, para nada serve.
Não serve, nem política, nem economicamente, formaram-se asnos, e os resultados estão á vista de todos.
Não se pode culpar os professores por estes falhanços, a eles só se pode apontar, o conluio perpetuado com o sistema curricular, ao abrirem mão dos programas curriculares, ao permitirem um laxismo conveniente das matérias, ao se permitirem ser avaliados, mas não poderem avaliar os alunos.
Quando um professor abdica do dever de avaliação de um aluno, ou de uma turma, abdica simultaneamente também do seu propósito, o de ensinar, e ao fazê-lo zelosamente, deixa de ser um professor, constitui-se em um propagandista de uma ideologia, de uma crença, um mero formador de inúteis.
Da mesma forma que, permite a introdução de doutrinas, a "nouvelle école", substituindo a moral humanística, pela imoral segregação racial, teológica e sexual, inflige-se temas pseudoecológicos, como alterações climáticas, quando o planeta demonstra essa naturalidade nata.
Centenas de alunos são lançados anualmente, um patamar acima no círculo académico, completamente estupidificados, ignorantizados, serão os médicos de amanhã, os juízes, os políticos e naturalmente os professores.
A ordem da natureza é cíclica, evolutiva e imparável, demorada e sapiente, mas não prostituível, a desígnios de qualquer humano, se assim o fosse, já não existiria.
Se repararmos, ou se o assim quisermos fazer, nenhuma mente brilhante desflorou nestas duas décadas do sec. XXI, as últimas que o mundo viu nascer, datam do sec. XIX e primórdios do sec. XX.
O impacto na humanidade de uma educação e um percurso académico decente e sério, reflecte-se forçosamente no quotidiano civil, militar, político e humanístico da vida societária.
Pelo que, como se irá aperceber, ao longo das próximos anos , as repercussões da ignorantização, são vastas, propositadas e têm um fim, como todos os actos acarretam consequências, as consequências destes actos estão longe do simples e mero potencial cognitivo das massas, as massas não possuem discernimento, crítica nem razão, para deslumbrar a "lavagem cerebral" a que esteve e está sujeita, durante este século.
"Educate the childrens, and it won`t be necessary to punish the men."
Pythagoras
Valter Marques