A indigência nativa ocidental
" Pelo labirinto perpassa um sentimento de urgência que testemunha a angustia do seu autor: quando nos disporemos, enfim, a investir «esse desconhecido que somos nós mesmos e Portugal connosco?» Quando, finalmente se abrirá «uma ´época de implacável e viril confronto com a nossa realidade nacional de povo empobrecido», de país «sempre à beira da bancarrota»? Não que Portugal tenha «problemas de identidade nacional». O problema está que «a nossa auto-imagem peca por um idealismo prodigioso».
Maria de Fátima Bonifácio, in Fora da Circunstância.
A palavra indigente está na realidade ligada aos aspetos físicos da vida, como a pobreza, carência económica, e a miserável vida sob o jugo das necessidades físicas, no entanto julgo que a mesma se pode e deve aplicar ao aspeto abstracto ou do pensamento que um povo ou determinados grupos de uma sociedade se demonstrem pobres intelectualmente. carentes de conhecimento e miseráveis no seu juízo, para todos os efeitos ser indigente é também ser vazio de riqueza interior.
E não existe pior que, uma sociedade votada por desígnio e opção própria a constituir se quase por completo à indigência intelectual, e quando assim se estabelece, o mundo passa a ser visto através dos olhos de um cego, não enxergando nada, além da escuridão que conhece.
Se a sociedade portuguesa hoje, pudesse de forma altruísta e séria, ver e enxergar estes três últimos anos a que foi sujeita, e em vez da escuridão negra, olha se ao arco-íris, descobriria instantaneamente 7 vistas diferentes do mundo, contudo, e atendendo a Almada Negreiros, somos e seremos sempre uns indigentes, cegos e fechados na escuridão.
As recentes noticias vindas da China, pelo menos as que alguém deseja que assim sejam, notícias, relatam nos a possibilidade de um verdadeiro holocausto por conta do aliviamento das medidas covid, com pompa e circunstância a grande mass media ocidental, em jeitos de cartomancia de feira, aponta a possibilidade de existirem cerca de 5 mil chineses mortos por dia, pela liberdade não de quererem ser prisioneiros da covid.
Vamos a números então, desde 2014 que o número de mortos na China se mantém estabilizado abaixo dos dez milhões ao ano, 2020 não foi excepção, (como referência até 2014 situava-se nos 9,5 milhões ano), significa que morrem 27.397.26 chineses por dia, naturalmente a população chinesa chega perto dos mil milhões e quinhentos mil chineses e afins, em 2020 o número de mortos foi inferior a 2019, mantendo-se na faixa expectável de 7%, em 2021 a taxa de mortalidade na China caiu de 16,9/100.000 para 16.1/100.000, morreu menos gente, 2022 será também deficitária, em contra ciclo, Portugal é recordista de mortos, 2020, 2021, 2022, será também em 2023, 2024 e 2025.
As contas são fáceis de entender, a China em termos populacionais é 150 vezes a população de Portugal, e morre anualmente na China o equivalente a um Portugal inteiro, mas se Portugal fosse a China, os 300 mortos dia que se verificaram em 2020 em Portugal, teria de ser exponenciados à nova realidade, 150 vezes superiores, morreriam (teriam morrido) 45.000 pessoas dia em Portugal com a actual população existente na China, curioso facto não?
A dissonância cognitiva que assola a sociedade portuguesa ( e de todo o ocidente), a tal indigência intelectual, não permite ver além da escuridão a que a mesma por desígnio se auto impôs, as notícias da China, são aquelas que a China deseja que vejamos, e a indigência colectiva de Portugal absorve a inutilidade do assunto, sem a mínima analise dos tempos em que vive, na China morre se aos molhos, naturalmente, na Índia também, os dois mais populosos países do mundo (cerca de 4 mil milhões de habitantes), têm por força da natureza de ter mortos aos molhos diariamente.
Mas o problema nem é as mortes pelo vírus da desgraça, é a morte do ocidente, e consequentemente de Portugal, pelo simples facto do ocidente, Portugal incluído claro, ser indigente intelectualmente, e a sua impossibilidade de ver o quadro completo da desgraça que para si chamou, e clama como um otário pela sua cegueira, para que todos vejam somente a escuridão que unicamente enxerga.
O covid é um problema geopolítico, o ocidente criou a narrativa da morte anunciada por um vírus banal, a China, culpada unilateralmente pelo ocidente, sabia de antemão da existência do suposto problema, afinal o laboratório era em terras chinesas, foi da China que uma medida emergiu, os confinamentos são fruto dos chineses, e durante dois anos a China confinou a sua população, esta é a primeira ilusão do Ocidente, os confinamentos foram efectuados sempre nas zonas (províncias) industriais e nos hub´s logísticos, os confinamentos na China nunca foram em todo o território.
Deixemos a China, e de forma breve olhemos de novo ao arco-íris, Federação Russa, outro problema geopolítico, nunca foi um problema militar, a supremacia militar russa é mais que suficiente para dizimar a OTAN em qualquer altura, em qualquer lugar.
A invasão da Ucrânia, sob o artigo 51 da Nações Unidas ( o mesmo artigo que deu cobertura legal a todas as invasões da OTAN e dos EUA) sob os mesmos pressupostos dos anteriores referidos, conduz a Federação Russa e os seus aliados (China, Índia, Irão e Turquia), a suplantarem a hegemonia americana no mundo, além do problema real do nazismo ucraniano e o morticínio que os terroristas ucranianos infligiram a Doneskt e Lugansk por oito anos, com a conivência do ocidente, a Federação Russa com a operação militar, não só destrói a já de si inútil OTAN, bem como passa a controlar a planície europeia, ao afastar a fronteira entre o ocidente e o oriente para oeste, cortando ao ocidente o controlo das rotas comerciais oriente - oeste (China - Europa Ocidental), através do controlo a sul da antiga região da Bessarabia, retirando à Ucrânia o controlo do mar negro, e a porta marítima e terrestre para o oriente médio, Turquia, Síria e Irão são os controlos terrestres a sul, a Rússia a Norte, porquanto Turquia e Rússia controlam o fluxo mercantil no estreito de Bósforo, o acesso ao Mediterrâneo e ao Mar Negro, outro estreito estratégico, nomeadamente dos transportes energéticos, Ormuz fica fora do controlo ocidental, através da aliança OPEP+ e Irão.
O ocidente pensou em destruir a sua sociedade com o covid, algo em que sairá vencedor, e através do conflito geo-estratégico com a Rússia e com a China, procurou a forma de consolidar de facto e de jure a sua hegemonia, a sua revolução cultural (ou o cancelamento cultural ocidental) e a sua revolução humana (géneros e outras distopias) e a sua completa dissonância cognitiva.
Faltou-lhes história, nem Rússia nem China alguma vez foram conquistadas, e juntar as duas potências mundiais em acordo, para fazer frente a um Ocidente indigente física e intelectualmente, é a receita para a desgraça mais que evidente, a Rússia surgirá em 2024 como a potência do mundo a par com a China e a Índia, ao ocidente, no mínimo espera se um conflito interno, que pode muito bem ser na figura de guerras civis.
Valter Marques