A Europa e o globalismo, passado, presente e futuro.
A Europa do séc. XX e XXI, é, como não podia de deixar de ser, diferente do séc. XIII, escolho este tempo (séc. XIII), em homenagem a Marco Polo, e a sua viagem através da rota da seda, e o importante marco histórico que descreveu.
Primeiro, o ocidente tem de voltar a estudar, o globalismo não nasce no fim do séc. XIX, é anterior, conta já com cerca de oitocentos anos, só como comparação, Portugal está á beira de concluir o primeiro milénio de existência.
O mercado global, e a própria globalização das sociedades inerentes, consolida-se, não nasce, no estabelecimento da "Rota da Seda", e a sua evolução natural, permanece até aos dias de hoje.
O termo "globalismo" ou sociedade global, é um termo moderno, estilizado e sobejamente abusado, pela sociedade moderna, induzindo o erro e a sobranceria da sociedade moderna, tomando para si, algo que, não o é, não se pode dizer que é roubo ou furto, não, é somente engano, ignorância e estupidificação das massas modernas.
O Globalismo é estabelecido pela faculdade dos povos comunicarem entre si, societariamente, comercialmente e até culturalmente, e isto vem a ser executado há séculos, com a rota da seda, as rotas inter e intra regionais, as rotas marítimas, os romanos, tinham o império globalizado, e não possuíam computadores, smartphones nem aviões...
Mesmo nas questões monetárias e financeiras, é um erro deduzir que o séc. XX e o Séc. XXI, implementaram novos caminhos, com as taxas cambiais, ou as balanças correntes entre nações, isso sempre existiu, as trocas comerciais medievais, chamemos -lhe assim, tinham valores mercantis intrínsecos, e dependiam, tal como hoje, da lei de mercado, a procura vs a oferta, existiam já nações (reinos, emirados, zonas tribais), com balanças correntes.
Há um pormenor que escapa ao ocidente moderno, e deveria ser bem considerado, a globalização até ao séc. XVIII, foi redigida e conduzida (como toda a sociedade avançada da época) pelos pergaminhos económicos do Islão, e a doutrina económica islamita, incluindo a moderna, é largamente diferente da nova economia, ou a economia emergente do séc. XIX, a doutrina económica ocidental, em uso no Ocidente actual, existem diferenças pertinentes, inultrapassáveis económica e moralmente, mas este especto fica para outro dia.
A globalização existe desde que o Homem venceu as barreiras da distancia, desde que o Homem descobriu que cambiando o seu producto natural com outros povos, que por sua vez têm interesse na aquisição de produtos que não possui forma de os produzir ou cultivar, beneficia ambos, abrindo caminho ao "livre comércio", ainda que livre seja somente designação, constitui a liberdade de comercio ajustado ás necessidades e termos negociados, taxas cambiais, lei de mercado, custos de transporte, tudo isto aconteceu antes do séc. XX e antes do Fórum Económico Mundial e demais organizações unilaterais se apoderarem indevidamente, do que era livre e auto regulado.
A globalização moderna é a evolução da tecnologia, dos meios e dos fins, iniciando se nas rotas terrestres, evoluindo para as rotas marítimas e para as rotas aéreas, a evolução foi tecnológica, evolui-se das caravelas até aos maiores cargueiros de hoje, dos dirigíveis aos super aviões a jacto, das carroças ás mais modernas linhas ferroviárias,
Nem podemos associar ao séc. XX o aparecimento das bases logísticas internacionais, como exclusivo da inteligência desse período, nem do aparato financeiro e de seguros, tomemos como exemplo Veneza e o centro nevrálgico económico-financeiro da Europa do séc. XIV e seguintes.
Pelo que, a globalização do mundo moderno, no presente, além da viragem da política económica e financeira para a doutrina ocidental, mudou de forma perigosa as regras do "livre comércio", já não se constitui mais em "livre", mas sim um negócio privado.
Ás nações modernas, retiram se a naturalidade nata, quer de produção quer do comércio, nenhuma nação é hoje realisticamente livre para produzir, foram lhe estabelecidas quotas ou em certos casos, banidos do jogo, sancionados unilateralmente, Portugal por exemplo, foi lhe infligida uma quota na producção de leite, penalizando duramente os Açores, o maior produtor do País e um dos maiores da Europa, e isto têm consequências económicas e sociais, o mesmo se sucede com a Alemanha e a quota de producção de aços.
A globalização moderna, é somente, a estratificação de poderes, produtivos, e de comercio, consoante a vontade dos organismos unilaterais que o gerem, sob a batuta do Capital e Lucro, e da alienação de bens, não importa se a nossa valência é o leite, importa sim, canalizar o monopólio dos bens para uma entidade única, que controle e ordene, e para esse efeito, diversifica se, sob o manto do não monopólio.
O comércio é deste modo controlado e gerido, não por comerciantes ou industriais, mas por organismos unilaterais com interesses próprios, com regras impostas e controlados de forma asfixiante pelo Capital, que se constitui desde logo, uma inversão de posições, é a producção e a industria que produzem Capital , e não o Capital que produz industria e producção.
O sistema global moderno vai implodir, sustenta se sob o Capital e os Lucros futuros, e não será por falta de Capital (basta imprimir sob dívida), ou falta de Lucros correntes (novamente basta imprimir sob dívida), será pela falta do principal actor na equação, o Consumo.
Uma redução acentuada, moderada ou ligeira no Consumo, irá reflectir se acentuadamente, moderadamente ou de forma ligeira na producção e na industria, impactando directamente nos assuntos sociais, económicos e financeiros, reduzirá o Capital (diminuindo a capacidade de retorno de Capital), e restringido o Lucro (é ao lucro que se retira a falta que se apura no retorno do Capital), esta é, de uma forma muito simplicista, a forma e o método da globalização moderna, onde o interesse do Capital se sobrepõe ao interesse da sobrevivência, alienou se a soberania secular, á emancipação do Capital, a soberania do Capital sobrepor-se-á á soberania da Humanidade.
Pelo que o futuro, será a continuação endémica da sucessão de crises, financeiras, climáticas, virais, cibernéticas, muitos nomes e motivos, tudo com o mesmo fim, a preservação do Capital, nas crises financeiras, a sociedade liquida os desvaneios da grande finança, impõe se a redução de rendimentos para sustentar ruínas alheias, aplicam se taxas climáticas, reduzindo rendimentos, sob um pretexto inexistente, os problemas mantêm-se e agudizam se, pelo que iremos ter sucessivas crises, a pretexto do "bem comum" e é, mas do Capital não da sociedade.
Pelo que, a globalização moderna, conduz invariavelmente ao empobrecimento da sociedade.
Eu pessoalmente sou um adepto deste "modelo", e tenho de lhe tirar o chapéu, é brilhante, bem estruturado, e mortal, completamente super eficiente, é um modelo em que as sociedades se suicidam com um sorriso, que assistem impávidas ao seu empobrecimento geral (estados sociais, saúde, infraestruturas, tudo), e pedem mais deste modelo.
O modelo é desprezível, criminoso, mas quem o pensou (Rockfeller 1901), é uma mente brilhante.
Valter Marques