A emancipação dos idiotas ( Die Judenfrage Bruno Bauer)

17-10-2022

Ensaio de Karl Marx em 1843, sobre os estudos de Bruno Bauer, um jovem hegeliano.

Bauer, defendia que, os Judeus, para se emanciparem politica e socialmente, teriam de abdicar da sua raiz religiosa, com a renúncia da sua consciência religiosa privada. Bauer entendia que, a vida política principalmente, não se enquadrava com as demandas religiosas, e a emancipação política, bem como a social, requeriam um estado secular. De acordo com Bauer, tal estado não é compatível com demandas sociais como a religião, considerando o mesmo, as demandas da religião uma afronta e contrárias aos Direitos Humanos (Direitos do Homem na altura...)

Karl Marx, aproveitando os estudos de Bauer, contraria a linha de pensamento de Bauer, e compara o Judaísmo ao Cristianismo, concedendo ao Judaísmo as mesmas concessões que o Cristianismo goza, Marx vai mais longe e retira de cena a questão teológica, referindo que a emancipação política e social, só se conseguirá com a emancipação da humanidade, Marx concluí que o indivíduo pode ser espiritual e politicamente livre em um estado secular. Marx aponta outros factores determinantes, como causa da não emancipação do indivíduo, entre elas a economia e a riqueza.

No século XIX, isto até parecia fazer sentido, já no séc. XXI, nenhum dos dois (Bauer e Marx) ousariam escrevinhar sobre teologia e ordem social nesta forma, primeiro seria politicamente incorrecto, segundo geraria provavelmente um movimento pelas redes sociais e pelos meios de comunicação de alta consternação e repúdio, depois era a vitória dos idiotas e a sua emancipação no mundo.

O que extraímos destes dois pensadores livres, é a sua capacidade de pensar, se estão certos?, ambos têm os seus pontos, no final do século XX e início de séc. XXI, ambas as suas obras, seriam considerados "artigos de opinião", levaria a sociedade a um breve debate sobre ambos artigos (3, um de Marx e dois de Bauer), e provavelmente o assunto, ou os assuntos depressa cairiam no esquecimento.

Mas, estamos na primeira metade ainda do séc. XXI, e já tal facto se tornaria, uma heresia, um ultraje aos bons costumes (quais?) e um atentado contra a humanidade (onde?). Marx e Bauer foram acusados de anti-semitismo, que descansem os idiotas de hoje, que até naquela altura já existiam.

Hoje, assiste se há emancipação dos idiotas, e para nossa desgraça, ninguém disserta sobre o assunto, compreensivelmente, enfrentar um idiota é enfrentar quase o mundo.

Se na obra de Bauer, substituirmos a religião por inutilidade, trazemos a obra ao presente, só que invertendo o seu objectivo, no estado moderno, a inutilidade do indivíduo é a sua própria emancipação política e social, quanto mais a sua demanda for no sentido da inutilidade, na religião, na ciência e no próprio estado, mais inúteis se tornaram as sociedades, mais idiotas se serviram da inutilidade da sociedade, o Ocidente moderno, permite, com a emancipação de inúteis falantes, ser governado por idiotas de palavras ocas.

Marx, por seu turno, defenderia que inúteis e idiotas, são espectros privados, e que a verdadeira emancipação da humanidade é compatível com inúteis e idiotas, desde que o fizessem dentro de casa.

Nos dias de hoje, Marx e Bauer escreveriam romances e policiais, dado que os seus intelectos, necessitam de problemas e não de inutilidades.

A sociedade de hoje, inutilizou-se, tornou se idiota e acrítica, podemos afirmar que a emancipação que a sociedade de hoje sofre, não é sua, não pertence ao indivíduo, pertence ao colectivo, e a emancipação do colectivo, deriva do indivíduo, mas o indivíduo hoje tornou se inútil, idiota, pelo que não pode o mesmo se emancipar, por conseguinte, o indivíduo de hoje, vive na sombra do seu par, e o seu par em um outro, e deste modo nenhum indivíduo se emancipa verdadeiramente, fá-lo através de outrem, dada a sua inutilidade e incapacidade de agir individualmente, alinha se com o seu par, numa sucessiva corrente ideológica.

Um dos problemas desta sociedade, é o abandono da crítica, do juízo e do conhecimento, que se traduz na inutilidade do individuo, e um individuo inútil, é um idiota perfeito.

Valter Marques

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